segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A inveja, essa extraordinária "qualidade" portuguesa

No reino da inveja
Se há coisa bem conseguida pelo governo de José Sócrates é o modo como tem gerido as comunicações, as intenções e as tensões. Muitos são os que sabem que quem se encarrega desta árdua tarefa é Luís Paixão Martins, director-geral da LPM Comunicação, empresa que fundou para a campanha eleitoral de José Sócrates nas legislativas de 2005. Como o negócio tem rendido, a aliança tem-se mantido.

Confesso que, se bem me lembro, apenas reconheço o nome da RDP, doutros tempos, e tenho uma vaga ideia da sua fisionomia. Contudo o jornalista é um mestre na arte da manipulação. Conhecendo bem a mesquinhez nacional engendrou um plano infalível. Se os outros são melhores que eu e eu não me posso comparar a eles, não tenho que me esforçar para melhorar, tenho é que me atirar a eles de unhas e dentes e vilipendiá-los e esfarrapá-los na praça pública.
Ou seja, infelizmente, e ao contrário dos americanos e da sociedade de oportunidades, somos um sociedade de oportunistas e invejas. Traço indelével que muito jeito tem dado a políticos incompetentes, trapaceiros e corruptos e a banqueiros vigaristas no que à política e à sociedade diz respeito.

Basta ler a generalidade dos comentários que por aqui aparecem. Tirando uns quantos, poucos, infelizmente, que reflectem sobre o assunto tratado, a maioria, também ela absoluta, apenas transpira e destila ódio social.
Os professores são manhosos e madraços. A minha escola é melhor que a tua. Os médicos foram hipócritas no juramento. Os juízes apenas defendem a causa própria, os políticos são corruptos. Os patrões são sacripantas imorais.
Nós, trabalhadores por conta de outrém, somos as vítimas que tudo pagamos. Cabe-nos por isso a nós, não pugnar por uma sociedade melhor, mas exigir que aos professores, aos médicos, aos juízes, aos polícias, aos funcionários públicos, aos camionistas e sei lá a quem mais sejam retiradas todas e quaisquer regalias que têm para que possamos sofrer e penar por igual.

Como é natural tudo serve como espingarda e arma de arremesso. Há sempre à mão um texto ou um refrão do agrado da multidão. As palavras do Rangel (do emídio, não do irmão!), populistas, são o fermento que faz crescer o alfobre de Luís Paixão Martins e paga s fatos de Sócrates. Mas são exactamente as mesmas que lhe granjearam milhões com o macaco Adriano em emissões televisivas primitivas e primárias! Achas para a fogueira social, tal como o foi o Big Show Sic para a televisão nacional que passou a concorrer por programas cada vez mais miseráveis e aviltantes.
Ali, como aqui, mantém-se o engano!
O problema não está na perda de regalias, está no não ganho das mesmas.
Não critiquemos os professores, unamo-nos a eles nas suas manifestações.
Não critiquemos os médicos e os enfermeiros nas suas lutas, exijamos qualidade nos serviços de saúde públicos.
Não critiquemos os polícias, exijamos a defesa da sociedade civil.
Não critiquemos os camionistas, exijamos o abaixamento do preço dos combustíveis.
Saiamos para rua. Gritemos e protestemos. Se as noites estão frias, façamos fogueiras que nos aqueçam a alma e as vontades.
Se Sócrates nos maltrata, façamo-nos gregos! Que a Praça do Giraldo ou o pelourinho de qualquer vila ou cidade seja o bairro Exarhia ateniense.
Não será altura de fazer real o 'muito barulho' antevisto e anunciado por Medina Carreira?.
Se não estamos bem e já que o centrão castrou a estrutura militar, lutemos nós por isso.

O Estado somos nós, não são duas centenas de gajos principescamente pagos que dizem representar-nos de 2ª a 5ª, quando lá vão, na Assembleia da República. E, mesmo assim, já somos o país europeu com menor representação de deputados por habitante na Europa.
Coisas do défice.
Mas, contra o défice democrático e económico vivido diariamente por todos quantos votaram ou não em tais governantes, só nos resta, a todos, de facto, fazer 'muito barulho' e agir solidariamente.

Tirado daqui e é escusado dizer que subscrevo inteiramente

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